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segunda-feira, 14 de setembro de 2015
segunda-feira, 10 de março de 2014
Lua Crescente
Cresça querida lua, deixa sua luz cobrir sua face, derrama sua pálida luz até que preencha seu próprio corpo redondo. Que seu corpo fique evidente na escuridão do céu noturno. Deixa, lua amada, que sua luz cresça para além do seu corpo astronômico. Que o céu inteiro seja banhado por sua sabedoria cálida. Para além do céu, querida, que a Terra sugue para si sua crescente luminosidade. Que se banhe inteira no prazer da sua branca paz. Que a Mãe Terra engravide do seu derramamento fluido e constante, e que dela brotem árvores de lua, com frutos brancos e doces. Envie, deliciosa lua, seu crescimento de fase cá para meus cabelos. Que minha cabeça seja inundada, sem pudor, com sua luz fria. Me preencha. Toque meu coração, e nele cresça assim como no céu, assim como na Terra. Me envolva, me tome como se eu fosse uma cratera do seu rosto pedregoso. Me ilumine, amada lua, cresça em meu quadril, enchendo meu útero e desça para os meus pés, penetrando novamente a Terra, inundando todo o vazio silencioso do universo. Do universo em mim, daquele fora de mim. Cresça, lua.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Seja bem vinda, Grande Lua Vermelha!
Um ser que verte sangue, leite e
lágrimas ao mesmo tempo só pode ser o superlativo de alguma coisa. Depois de
quase 15 meses fui abençoada com a volta da minha menstruação no mesmo dia em
que a lua cheia chegou clareando o véu negro da noite de forma imponente. A luz
da lua invadiu silenciosa e cálida o frio do firmamento, derramando êxtase no
coração daqueles que sabem reverenciá-la. Enquanto isso meu ventre desperta de
um descanso profundo e merecido, e acorda pulsante, vibrante, vertendo o sangue
de um vermelho vivo, respondendo ao chamado da Mãe.
Antes da gestação, a menstruação
era pra mim Morte, a abençoada Ceifadora Sinistra que vinha arar o campo,
revolver a terra, destruir o inútil. Era dor, despedida, luto. Agora, quando vi
aquele sangue tão esperado destacado em um vermelho vibrante no papel branco,
fui invadida de felicidade e só pude me sentir viva. Sentir minha vulva
molhada, um pouco dolorida, foi me sentir fêmea novamente.
Então a menstruação também é
prazer e vida! E começo a achar agora que ela pode ser qualquer coisa, pode
trazer as mais diversas mensagens para o mundo feminino, e deve ser exatamente
aquilo que precisamos. Por que é assim, generoso, abrangente, sábio, este
feminino.
Meu corpo está pulsando vida,
produzindo nutrição pro meu filho, acordando meu ventre, eu só posso me curvar
em gratidão e meu coração se transborda em um sentimento de totalidade, amor,
sacralidade... Sou risada e lágrimas diante da Lua, a Grande Lua Vermelha.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
A responsabilidade de um bebê
Antes de começar a ler este texto, vamos esclarecer uma coisa para evitar dedos em riste e comentários desnecessários. Se falo dessas escolhas como as melhores, foi por que eu estudei, pesquisei e achei que estas eram as melhores escolhas para minha família. Se voc~e achou que outras são melhores, não é meu papel julgar. Falo apenas de mim neste texto. E sim, a cirurgia cesárea pode prejudicar os bebês, pesquise e se informe.
Um bebê que nasceu em um parto
natural, foi direto pro colo da mãe, mamou sempre em livre demanda, tem muitas
responsabilidades. Este bebê de quem eu falo, dormiu desde pequenino no colo,
mamou sempre que quis, é cuidado principalmente pela mãe, e levado pra cima e
pra baixo no sling. O pai está sempre presente, está sempre envolto por amor. É
tratado com homeopatia e acupuntura quando necessário. Este bebê sempre é atendido
quando chora, e nunca foi deixado sozinho para dormir. Este pequeno, não
importa a idade que tenha, tem muita responsabilidade, a enorme
responsabilidade de ser o melhor bebê da face da terra.
Quando eu me pego com vergonha e
desapontada por que o Pedro ainda acorda muito à noite, só dorme com o barulho
de chuva no ouvido, não dorme no peito, percebo que na minha mente passa um
pensamento “mas este menino nasceu em casa, o que ele quer?!” E olho bem
comprido pra aquela criança que nasceu de cesárea, dorme sozinha no quarto, é
cuidada pela babá, entre outras coisas, e que é tão feliz, dorme a noite toda e
ri o tempo todo...
Eu tento, assim que me pego neste buraco de coruja,
lembrar que meu filho é uma pessoa, um bebê, e não me deve nada. Eu fiz o
melhor que pude, e continuarei fazendo, e mesmo assim ele não me deverá nada.
Não precisa pagar nem com um sorriso, nem dormindo a noite toda, nem sendo um
bebê tranquilo, ou uma criança esperta, ou um adulto legal. Não é este o tipo
de relação que eu estou construindo com meu filho. Eu faço o que acho melhor,
me desdobro, me desboto, me desfaço e me refaço para que isso seja possível.
Mas isso não é um favor pra ele. Seja, meu filho. Que eu não te impeça. Amém.
Atropelos
Meu filho é o primeiro da sua
geração na minha família. O primeiro neto, sobrinho, e meu primeiro filho. Na
minha família isso provocou um efeito, acho que por causa da comoção de ver a
família começar a atravessar o tempo. Aconteceu que as pessoas se perderam nos
seus papéis. Antes de o Pedro chegar, tínhamos bem definidas certas coisas,
como que cada um sabe de sua vida, e que nós, como família, iríamos nos apoiar
incondicionalmente. Mesmo que não concordássemos com as escolhas do outro. E
agora tenho uma imagem na minha mente de todos correndo de um lado pro outro,
sem lugar diante do Pedro. E me atropelando.
Eu sei exatamente qual o lugar do
meu filho nesta família, ele é só um bebê, e o lugar dele é no meu colo. Isso
tem um significado importante, o lugar dele é onde eu estava antes, onde eu
estou, e depende de mim. Por enquanto, e ainda por muito tempo, o lugar dele é
o meu. Se querem alcançá-lo sem me ver, me machucam.
As decisões que eu tomei na minha
vida, mesmo que minha família não tenha concordado, ou entendido, mesmo que
meus pais tenham achado que não ia dar certo, em todas elas eu recebi apoio,
algumas foram bancadas financeiramente pelos meus pais, e bancadas
emocionalmente também, não só por meio de palavras, mas de atitudes
(comportamento e postura).
E agora, com meu filho nos
braços, tomando minhas decisões que não mais dizem respeito apenas à minha
vida, sinto que o apoio incondicional não é tão natural como era. E não
estou me referindo à apoiar meu discurso, que é realmente muito bonito. Mas
apoiar e incentivar minha maternagem.
Que vejam como eu dou banho e
visto meu bebê, como eu o carrego e brinco com ele, como eu o cheiro e o
desejo, como eu o amo e quero bem. Como eu quero ficar com ele no meu colo e eu
quero trocar suas fraldas molhadas. Como ele morde meu queixo e gargalha quando
eu beijo sua barriga. Como eu cuido do seu choro e do seu reclamar. Como eu
deixo que ele se relacione com outras pessoas nas quais eu confio. Como eu o visto no frio ou no calor. Como eu
decido que é hora de pegar no colo ou se eu o deixo reclamar mais um pouquinho.
Todas estas coisas são minhas escolhas, minhas decisões, minha maneira de ser e
cuidar. Assim que eu sou (mãe). Que observem, apenas. Desejo ser respeitada nisso, muito respeitada,
e quando respeitam minha maternagem, estão respeitando meu filho.
Olhar e não interferir, só me
observar sendo mãe, e se eu precisar que façam alguma coisa, que me ajudem se
puderem. Pessoas da minha família nunca me observaram fazendo algumas dessas coisas, por puro atropelo. É disso eu sinto falta. Parece querer demais, mas sei
que minha família está pronta pra isso, talvez estejam apenas meio perdidos.
Então que parem, e olhem. Me
vejam sendo mãe. E se querem pegar meu filho nos braços, que olhem nos meus
olhos primeiro. Essa é a ordem natural das coisas.
sábado, 6 de abril de 2013
É
Eu não sou ateia Não
gosto de religiões, principalmente as cristãs. A religião católica tem um
histórico de barbáries horripilantes e cumpre lindamente o papel de superego
externo para aqueles que já tem superego, querendo regulamentar comportamentos
e impor moral, o que a meu ver é se afastar anos-luz da espiritualidade.
A
maioria dos dogmas serve para traduzir o inefável para quem precisa de
tradução, para quem só conhece o mundo de dentro da sua língua e sua cultura. É
um papel perigoso e muitas vezes infrutífero. Ficarei feliz no dia em que a
humanidade acordar e a religião perder todo o sentido.
Quem sou eu pra falar
com tanta propriedade sobre um assunto organizador de existência? Não sou nada
nem ninguém, não quero ser guru nem "mística" e um dia manifestarei
apenas luz, e isso vai acontecer certamente, mas não através deste texto.
Tudo
isso è apenas mais uma forma de me colocar no mundo, de atuar, de existir. Eu
existo criticando a religião em um blog e no mesmo texto, tentando explicar o
que é a divindade na minha experiência.
No meu experienciar o mundo existe algo que outros vêem ou sentem um decímetro
e chamam de Deus. Este Deus quase homem, brincante de destinos, fazedor de
homens e mulheres, ouvinte de súplicas e cheirador de incenso, este não existe.
O que em mim existe é o todo pulsante e
onipresente. É aquilo que mantém os átomos e os planetas em movimento, no seu
lugar e em um não lugar que é pura potencialidade. Não é uma energia e nem um
ser. É simples, é tudo o que existe. Não é bem nem mal, é luz e sombra, é o
verbo ser no infinitivo, no infinito possível e impossível.
Eu não existo, nem
você, nem a matéria, nem a dor ou a fome. Tudo é ilusão. Tudo é manifestação
criativa, tudo isso é feito e desfeito dentro do mesmo pote. Eu Sou tudo, e tudo
me é. Não há separação real entre mim e todos os seres e coisas. Não sou outra
coisa que não as fezes de um rato. Não sou outra coisa que não a força do
terremoto. Não sou outra coisa que não a luz da lua pálida jogada no mar. Sou
ação, sou estado. E mesmo assim, nada disso existe.
O tudo se manifesta de
infinitas formas por que é pura potencialidade. Há espírito, reencarnação,
outras dimensões, planos e seres. Há leis, energias sutis, corpos energéticos e
multidimensionais. E estas manifestações do todo não dependem da fé de ninguém.
São.
E nada disso importa, pois nada existe realmente. A tendência do todo
que me habita é retornar para este todo de onde nunca saiu. É cessar as
manifestações diversas e ficar no seu estado puro de ser. Para depois se manifestar
novamente em outras formas, numa continuidade de movimento de vida. Assim, em
mim e em todo ser e coisa há uma tendência comum para o amor. O amor nada mais
é, o amor puro, do que todos os seres voltados para a "fonte", é a
busca, a sensação, a certeza interna de que todos somos a mesma coisa. Todos,
individualmente ou coletivamente, somos o todo. Buscar esta verdade é sentir
amor. Manifestar esta verdade é ser o amor. Somos amor, pois somos um. E isso é "Deus".
domingo, 24 de março de 2013
Comer Amar
Amanhã fazemos seis meses de aleitamento materno
exclusivo. Catorze meses construindo um corpo humano. Durante este tempo, o meu
filho se nutriu do meu corpo. O primeiro alimento não é só de nutrir o corpo, é
de nutrir todos os aspectos do Ser. O seio não é apenas fonte de nutrientes, é
a fonte da Vida. É de onde jorra leite, amor, abraço, afago, cheiro, pulsação,
voz, olhar, segurança. Se alimentar não é apenas saciar o estômago, desde o
início da formação das nossas conexões cerebrais, desde que começamos a
entender o que é alimento. Comer é prazer, por que sempre foi, desde a nossa
primeira engolida no leite. Comer é segurança, conforto, é receber amor. É um
ato cultural, social, permeado de significados, memórias de sensações.
Quando
começamos a introduzir outros alimentos na dieta do bebê, o comer tem todo este
potencial de prazer, de ser um ato que revive a sensação do Materno. Mas na
manutenção de um ciclo de relação ruim com a comida, mediada pela valorização
do artificial, pela falta da manutenção e desenvolvimento da saúde, pelo culto
ao corpo padronizado e forjado artificialmente, nós não sabemos deixar que
nossas crianças comecem a comer, e não sabemos lidar com a maneira infantil de
comer.
Talvez cada bebê tenha uma maneira e um tempo para começar a se alimentar
de outras fontes que não sua mãe, e tenha também seu tempo de abandonar de vez
o peito. Talvez nosso papel seja sugerir alimentos, quantidades, contextos e
maneiras diferentes de comer e deixar que eles, através da busca natural por
prazer, escolham sua forma de comer. E que mudem. Nosso papel seria, então, não
atrapalhar a relação já formada entre comida e prazer. Imagino que assim, as
relações entre comida, corpo, saúde e prazer seriam permeadas por liberdade,
aceitação, responsabilidade. Estaríamos indo contra todo o "sistema",
permitindo o desenvolvimento de pessoas livres.
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